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26.7.12

dos avós

uma data da qual nunca me poderei esquecer. um dia que nunca mais terá o mesmo sabor.
sou uma felizarda e rica porque os tive e ainda tenho alguns.
conheci-os, vive com eles, cresci com eles, aprendi com eles.
tive uma bisavó amorosa, da qual herdei o nome, uma mulher de armas que criou três filhas sozinhas por consequência de ficar viuvá muito cedo. nunca desistiu da vida, lutou sempre deu o melhor de si ao mundo. morreu velhinha, aos 98, ensinou-me que na vida não importa ser rico, mas que o importante é ser feliz e fazer feliz. além de lhe ter herdado o nome nunca me tratou por ele, chamava me carinhosamente de Lili. e eu nunca a chamei de avó nem de bisavó, foi e será sempre a avó velha.
era baixinha, magrinha, tinha uma pele de seda, cabelo branquinho, sempre de luto, não integral, mas a única cor que misturava com preto era o branco. fazia broas no forno de pedra e todos os sábados tinha á minha espera uma broinha que ela colava na chapa do forno, especialmente para mim. tinha um cheiro especial, só dela único. partiu sem avisar ao fim de uma queda que ninguém contava que acontecesse, lembro-me do ultimo boa noite que lhe dei, quatro dias antes de falecer...

a minha Céu e o meu Cardoso, foram e seram sempre os do meu coração, criaram treze filhos, com todo o amor que alguém possa imaginar, não há dia em que não pense neles, que deles não tenha saudades.
a minha avó via pela ultima vez faz hoje anos, vim embora com a promessa de a ir buscar ao outro dia, mas ela tramou-me e não me deu esse gosto, partiu sem ninguém prever que iríamos perder um dos nossos pilares.
dela herdei a "surdez", quem me conhece sabe que falo alto, e todos dizem que se deve ao facto de ter passado parte da minha vida a falar alto para ela que ouvia mal, herdei o gosto pela linha e pela agulha, guardo religiosamente a almofada de lã que ela me fez quando fui para o infantário, e o gosto de pentear e ter cabelos compridos, aprendi com ela, se hoje faço tranças perfeitas de todos os feitios a ela o deve, que me fazia a vontade e me deixava "estagiar" nos seus fios de cabelo longos e brancos, um dia decidiu corta los e eu, chorei por os ver cair no chão.
ainda hoje estou chateada com ela porque não me avisou que se iria transformar em estrela, porque não me disse adeus, mas até amanhã, porque me enganou e me deixou iludida pensando que ia gozar uns dias da sua companhia...

o meu avó, o Cardoso, é um dos meus heróis, dos poucos heróis que tenho, ele é dos grandes.
um lutador, dele tenho a certeza que herdei as duas mãos direitas, o amor pelo próximo, a vontade de viver e o grande medo de um dia ter que morrer. nunca conheci ninguém que tivesse tanta vida dentro de si como ele, foi um guerreiro, que mesmo contra a opinião dos médicos viveu anos e anos, sempre com um sorriso na cara e raramente dizendo um aí, partiu numa quarta feira de Fevereiro, solarenga. ao fim de tanto anos em luta e com tanto sofrimento sossega-me saber que partir como um passarinho...

as estrelas que mais brilham no céu, são as minhas, as deles....

do Silveira e da Benilde á muito e pouco para dizer´...
vivi sempre a meia dúzia de metros, dormi sestas no meio de trapos, tirei alinhavos, colhi uvas, pisei as para vinho, tomei banho de mangueira, mergulhei no tanque, subi a árvores e comi cerejas, pêssegos, ameixas, as melhores frutas, as mais saborosas, levei raspanetes, semeia batatas, apanhei-as, vi matar o porco, fiz morcelas... com eles vivi muito e tão pouco.
em breve estaremos juntos ...

com todos os seus "s" eles foram e seram para mim os melhores avós do mundo, são meus...e isso basta!

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